Pingo.
Pingo.
Pingado, do céu e do telhado.
Pingo.
Pingo.
Molhado, da goteira e dos meus olhos.
Restinho de água escorrendo pela face e assoalho.
Um gato lambe a última das gotinhas.
Meus lábios ensaiam um sorriso.
Sufoca-me a última gota represada no coração.
O gato me olha sedento.
Deito-me na rede, coberto pelo céu.
Vejo canários da terra beliscando o gramado,
E vespas montando casulos no beiral.
Conto as telhas no telhado aparente.
Percebo o vento, conversando gentil,
Com as folhas e galhos dos sombreiros.
O peito não resiste,
A represa se rompe
Encharcando o presente,
Remoendo o passado,
Devassando o futuro.
E escurece.
Tempestade não pede licença.
Cai furiosa para confundir pingos e pranto.
Chuva de verão,
Que assusta o felino,
Espanta os passarinhos,
Agita os marimbondos,
E se arvora, arrogante,
Para findar com o encanto.


Humberto Bley Menezes
Enviado por Humberto Bley Menezes em 27/01/2007
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