Mulher descuidada e desvalorizada

Nossa tendência é só valorizar

o que já perdemos,

o que já escorreu

por entre os nossos dedos.

E isso vejo cada dia mais.

Você pode até jurar,

berrar que ninguém te escuta

e ninguém fala contigo,

mas quando você desaparece,

tudo fica parado,

embrulhado, acumulado.

Já reparou?

Eu sim...

Então todos se perguntam:

O que houve com ela?

O que foi?

Estaria triste, doente?

Vai desistir?

É, eu ouvi os comentários.

Posso ser cega,

complicada,

enrolada,

uma criança,

mas de todo ainda

não sou surda,

nem burra, mesmo que

não sou estudada.

Nunca estive em faculdade,

universidade.

Mas nas letras,

pelo menos para ler,

sei entender.

E escrevendo

vou melhorando,

sempre aprendendo,

vivendo,

sentindo,

adquirindo conhecimento,

educação,

mesmo que isso

não é um fim em si mesmo,

nem o início,

e não leva a nada,

não quero ficar na estrada,

vou melhorar,

ficando mais escolada.

Ah, isso eu vou,

nem que tenha de continuar

a levar na cabeça,

tiro, ferro, paulada,

meteoro, canetada

e pedrada

como até agora só levo.

desde que enrolei-me

num fio de novelo

de lã dourada,

que um dia achei

no caminho,

que de curiosa adentrei,

por ser mulher descuidada.

agora não me dão valor,

abandonaram-me

a própria sorte,

e azar,

vivo de morte em morte...

Maria
Enviado por Maria em 28/01/2007
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