Luxo do lixo
Angélica T. Almstadter
Como uma mesa posta
Farta e disposta
Servida nua e crua
Olhos revirados pra lua
Me coloquei na sua desdita
Eu, poeta maldita
Que canto e me desencanto
Me desmancho em pranto
Nas dores que carrego
Do amor que em mim é cego
Amor que me põe na arena
Me tira o chão e me acena
Ao longe com desdém
Porque assim lhe convem
Dar esmolas de afagos
Nos momentos vagos
Minguando na mesa exposta
A carne que se gosta
Perdeu o prazo de validade
Apodreceu de saudade
Virou luxo do lixo