De frente ao espelho

De frente ao espelho

Mãos trêmulas acariciam um rosto

Na tentativa de absorver algum conselho

De um olhar injetado de desgosto

Um sorriso acabrunhado se disfarça

Entre as lágrimas que salgam o paladar

Mas o espelho desmascara toda a farsa

Porque sabe da razão de um chorar

Embaça-se o vidro no ofegar

De um respiro que lanceta como a dor

Sem ter saída e nem pra onde se esgueirar

O espanto paralisa sem pudor

O medo que atinge é palpável

As mãos bailam pela face irrequietas

Em um trêmulo espasmo incontrolável

Pelas culpas que o ferem como setas

Os cabelos são revoltos pelas mãos

O semblante é pesaroso e obtuso

Já não sabe se quem olha é amigo ou irmão

Ou simplesmente ele encara algum intruso

O olhar vai muito além de uma imagem

Refletida no pedaço de um vidro esfumaçado

Em busca de respostas no alcance da coragem

Pra encarar toda a história já vivida de um passado

Mas o espelho é tão cruel e não dá trégua

Mostra a verdade como uma espada nua

Esquadrinhando as medidas como régua

Deixando marcas mesmo na carne tão crua

Se tudo resolvesse com o vidro em estilhaço

Jogaria o espelho das alturas das montanhas

Faria dos cristais um verdadeiro estardalhaço

E em pó se tornaria o passado e suas manhas...

Allves
Enviado por Allves em 30/04/2012
Código do texto: T3641607
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