O legado de Heitor
Qual o peso do corpo quando atinge o chão?
Pesa mais o medo, a culpa ou a solidão?
Que som faz a navalha que rompe a pele,
expondo o esôfago e a voz calada?
Que peso têm os anjos que não me conhecem?
Pesa mais a indiferença, a verdade ou a prisão?
Quantos dedos usa uma pianista dupla,
quando diz que sou eu, mas não tem coração?
Quantas overdoses de humanidade terá Heitor,
ressuscitando sempre que chega a escuridão?
O que fez Nicolai ser instrumento de Deus,
e negar seu direito à inocência e à negação?
São todos vícios de uma língua morta,
de verbos escassos num mundo insuficiente.
Todos pedaços de imperfeições suicidas,
cantando o desespero sob suas réguas frias.
Agora entendo:
Ninguém nunca morreu.
Apenas eu.