METADE DE NÓS

Pra gostar de mim

Tem que gostar do meu mundo

Tem que aceitar meus poemas

Compreender que canções são canções

Que muitas letras não sou eu

Que muitos versos não sou eu

A arte é arte por si só

A arte é maior que o artista

Sou apenas um soldado em sua construção

Uma formiga, vagando sem formigueiro

Um grão de areia voando no ar

Um pouco d’água molhando o chão,

Molhando os olhos

Brotando na garganta de um sorriso

Pra gostar de mim

Tem que me conhecer de perto

Não sou céu nem inferno

Não sou só benção e pecado

Sou humano

Sua imagem e semelhança

Seu irmão, não inimigo

Sua face, seu batom

Sua glória e fraqueza

Sou como qualquer um

Mas tenho nome próprio e endereço

Que somente meu reflexo e minha sombra habitam

Sou ser

Sou nada

Sou tudo

Pra gostar de mim

Não precisa me entender

Respeito apenas basta.

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Extraído do livro: MÁQUINA DO VENTO, disponível para download na seção e-livros.