NAVIO QUE NÃO VI
Comi uma torta de padaria
Bebi um suco de guaraná
Esquentei meu jantar no microondas
Deitei pensando no amanhã
Não sei, tudo é tão nublado
Antes, eu via o céu mais claro
Não sei, cachorros latem na rua
Penso que estou delirando na madrugada
A luz acessa
A porta fechada
O quarto embaçado
Minha vista cansada
Levantei às seis da manhã
Sem relógio, sem nada
Deixo me levar pela correnteza
Espio a hélice girar
Fico tonto
Volto pra dentro
Peço um conhaque
Cumprimento o tripulante
Despisto
Minha sombra coloca as mãos na cara
Ponho um óculos escuro olhando direto pro sol
Consigo enxergar além dos raios,
Não comento com ninguém
Volto a me deitar
E vejo a água bater na minha janela.
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Extraído do livro: MÁQUINA DO VENTO, disponível para download na seção e-livros.