UM TEXTO SENSORIAL

O que seria do mundo sem som,
Das flores sem aromas.
Do arco-íris sem cor,
Do violão sem o tom.

O que seria do mundo...

Do mar sem os peixes, polvos, sereias e sal.
Sem a Providência divina, morada dos justos, o céu
Sem animais, se as fêmeas não entrassem no cio
Do espaço sem estrelas, planetas, lua e o sol.
Dos pontos cardeais e hemisférios sem o norte e o sul

O que seria do mundo...

Do corpo sem alma,
Da igreja sem oração,
Da vida sem Deus,
Da melodia sem a canção.
Da TV sem novela, na tela,
Da realidade em forma de ficção.

O que seria do mundo...

Do sexo sem prazer
Do prazer sem amor
Do beijo sem paixão,
Do coração sem perdão,
E no fundo só a dor.

O que seria do mundo...

Da escrita sem palavras,
Das casas sem telhado,
Das árvores sem galhos
Dos pássaros sem as asas
Da laranja sem bagaço.
E das frutas sem as cascas.

Como seria um mundo de ilusões...
Sem os seus porquês, afirmações e exclamações.
Sem os “com licença”, “por favor” e “obrigada”
Sem pedidos de desculpa algum...
Ou um caminho sem estrada
Que nos leva a lugar nenhum.

Como seria um mundo estático...
Sem seus gestos e movimentos
A orquestra sinfônica sem instrumentos,
Ante ao maestro teso, impávido
E o homem como estátua
De seus próprios lamentos.
Debulhando assim...
Um choro sem fim.

E nesse devaneio utópico
Imagino minh’alma em tormento,
Vagando pelas noites escuras
Penso nos amores, erros e incitamentos
Nos atos sem arrependimentos
Sem lágrimas, medos ou conjecturas.

Imagino meus muitos copos cheios de mágoas,
Os cigarros que em meus lábios, cremaram
As horas insanas e sinistras que já vivi,
Os forrós que dancei em forma de valsa.
São momentos de sobriedade que perdi
Pois em meus pensamentos, cessaram

A paciência que dei e não recebi,
Os livros desejosos de se ler
As histórias que não contei e esqueci.
Os amigos que perdi,
As riquezas que não quis ter
A lealdade que aprendi,
A amiga que imaginei ser...
A maldade que cometi,
Que a benevolência não prevê
Mera falsídia ou desídia de um ser.

Sinto minha pele sem elasticidade,
Sem brilho e momentos de amor
Sem os constantes toques, quase destruída
Enrugada, flácida, velha e sem cor
E que jazem repleta de histórias vivas.

Tudo bem se me perder por ai
Tudo certo a essa altura
Onde eu clamo pela sagrada loucura,
Desmascarada nos versos de Rita Lee
“Mas louco é quem me diz e não é feliz.”


Autora do poema: ÁDYLA LUCAS.
Revisor e co-autor: AUTISTA.


PS: Agradecimento especial a poetisa ÁDYLA LUCAS, grande amiga e colega do Curso de Terapia Ocupacional da UNIFOR (Fortaleza/Ce). Uma profissional promissora e uma pessoa muito especial que tive a honra de dividir momentos de criação literária.

COMENTÁRIO DA AUTORA: Uma de minhas poesias. Agradeço o incentivo do grande amigo e Terapeuta Ocupacional, Marcos!