Os Filhos da Mula.
Enterraram a mula negra ao lado da paineira...
Na entrada da cidade...
Desde então Miguelópolis urge a presença de seu concidadão...
Como que num passe de mágica...
Quase que magneticamente...
Os filhos, pródigos ou não...
Retornam a esta terra de cão...
E, incrustada no núcleo de cada célula...
Debaixo das unhas dos pés, entre entranhas, por mais recônditas, escondem-se as poeiras pelos cantos...
Mesmo que o tempo, inimaginável, perdure...
Mesmo que as distâncias, longínquas, impeçam...
E Mesmo que a bucha com sabão de côco e detergente, bem esfregada, tente...
É humanamente impossível extrair a terra do corpo do Miguelopolense...
Podem passar ácido...
Jogar gasolina... thynner, querosene...
Esfregar...
Esfregar e esfregar...
Não sai...
Não sai...
Não sai!
São partes da mesma composição...
A mesma matéria bruta...
Abrupta...
Estúpida...
Ininterrupta...
A mula peca...
E de tempos em tempos, com mosquitos aos ventos, uma vida sonolenta ouve de outra:
_ O Prexeca voltou!
_ Lembra dele?
_ Pois então, abraçou a mula de novo, o coitado.
_ Pelo jeito aquele não sai mais daqui não!
_ Depois de tantas tentativas, e nada!
_ Não ficou sabendo?
_ Acabou de comprar uma cova lá na baixada...
Miguelópolis é o destino último de todo filho da mula!
Nascido por aqui, morre-se aqui...
Enterrados no cemitério...
Na Rua da Saudade...
Ao lado do único prédio...
Abraçados por esta terra escura...
Comidos por vermes vizinhos...
Já conhecidos...
De longa data...
Que não se cansam...
E roem...
Roem...
Roem...
Roem os nervos do Miguelopolense...
*Dedicado a Paulo Freitas, dileto amigo.
SAvok OnAitsirk, 22.05.12.