Crepúsculo

Que beleza tem a vida,

se nem posso ter guarida

nas estrelas do poente.

Nem cantar e ter medida

minha tenra despedida

na maré que faz a mente.

Faz ranger o chão do mundo,

e diz tudo num segundo,

sem saber se foi sermão

a verdade que esfumaça;

Nada fica. Nada passa

se desnudo é o coração.

Ser apenas mais um trigo

pelas terras de perigo

onde a noite sempre fia

o relento do mendigo,

que no peito tem jazigo

ao sonhar a luz do dia.