Sangue nos olhos

Espasmos me consomem...

Sinto o gosto descendo por minha garganta,

tosco, espesso, viscoso.

A dor é lancinante, sinto-me angustiado.

Órgãos secretam substâncias.

Em vão.

Oxigênio em falta, deliro.

Vejo-me chorando em frente a um poço, rubro.

Enxergo meu reflexo na face do líquido, rubro.

Meu peito se abre, as lágrimas tem cor, são rubras.

A realidade volta, me estapeia de leve no rosto.

Sinto uma descarga elétrica, gritos, luzes, sons misturam-se.

Uma sinestesia sinistra, fúnebre, última.

O gosto em minha boca é único,

é sangue.

Sangue sujo, imundo.

Sangue que é meu, só meu.

Em breve não será mais, mas ainda é meu.

Inundo-me de vermelho, um vermelho diferente,

alarmante, incômodo e em pânico.

Vermelho-rubro.

Nunca gostei de vermelho,

e é uma pena ser a cor de minha morte.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 13/06/2012
Reeditado em 13/06/2012
Código do texto: T3722260
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