Sangue nos olhos
Espasmos me consomem...
Sinto o gosto descendo por minha garganta,
tosco, espesso, viscoso.
A dor é lancinante, sinto-me angustiado.
Órgãos secretam substâncias.
Em vão.
Oxigênio em falta, deliro.
Vejo-me chorando em frente a um poço, rubro.
Enxergo meu reflexo na face do líquido, rubro.
Meu peito se abre, as lágrimas tem cor, são rubras.
A realidade volta, me estapeia de leve no rosto.
Sinto uma descarga elétrica, gritos, luzes, sons misturam-se.
Uma sinestesia sinistra, fúnebre, última.
O gosto em minha boca é único,
é sangue.
Sangue sujo, imundo.
Sangue que é meu, só meu.
Em breve não será mais, mas ainda é meu.
Inundo-me de vermelho, um vermelho diferente,
alarmante, incômodo e em pânico.
Vermelho-rubro.
Nunca gostei de vermelho,
e é uma pena ser a cor de minha morte.