Brindei

Brindei aos sorrisos

com a taça borbulhante da fonte submersa.

Liquido brilhante, furtacor, semelhante a hidromel...

Brindei ao fulgor dos sonhos

na pétala nacarada da flor de lótus.

Sorvi o néctar mágico como ninfa dos bosques míticos.

Brindei a beleza da vida,

olhando nos olhos da Parca.

Engoli aos poucos o doce amargo sabor que embriaga.

Brindei aos céus e terras e mares e vulcões

embrenhados no coração do mundo conhecido.

Atravessei passagens secretas a outros mundos inimaginados.

Brindei gole por gole cada segundo

do tempo que foi e do que me resta, sofregamente.

O presente, o hoje, brindo na oferta e entrega de mim.

Brindei aos seres que conheci, aos que apenas vi, e até aos que jamais encontrei, humanos ou não.

Porque a vida é feita de encontros, partidas, desencontros e reencontros. Nem todos marcados, previstos ou agendados.

Brindei ao incomparável, inesquecível, surpreendente, inevitável, inexplicável.

Navegante das ondas, lancei-me sem remos confiando na Sorte.

Brindei a viagem muito mais que a chegada.

Brindei aos que foram comigo, aos que deixei, ou que me deixaram, não sei.

Brindei a cada passo, certo, tropego ou indeciso até aqui.

Mesmo ao que não foram motivo de brinde, eu brindei, afinal...

Enquanto houver amanhã, vou brindar, só ou acompanhada.

Deixarei para trás taças vazias, das noites e dias que compuseram minha jornada.