Vôo...

Abro minhas asas

Mesmo querendo mantê-las

Quietas e quentinhas

Ao ouvir o cricrilar do grilo, ao longe.

E ao abri-las

Acabo por sentir o vento

Movendo cada fibra de vôo...

Um vento forte, revolto...

Chega bravo, como que querendo dizer-me:

“ – Voe! Vamos!”

E então, assim, meio que com sono,

Ergo os braços, sacudo-me toda

Inspiro um pouco de vento

Como forma de combustível

E vou-me embora!

Subo alto, saio do chão

Com tão rápida facilidade

Que até eu me assusto.

Não imaginara possuir

Tão forte alçar de vôo...

Não imaginara sentir no rosto

O poder da liberdade.

Uma sensação de bem-estar toma conta.

E,aos poucos, o medo de cair

Torna-se mero coadjuvante.

Em meio a tantos tombos,

Tantos ralados e sangramentos,

Mais uma queda seria como brincadeira.

Coisa de criança.

Que chora feito doida

Ao escorregar da escada, na escola.

Mas que, depois do curativo,

Corre de encontro ao melhor amigo, dizendo:

“ – Olha! Ganhei um curativo! Veja!”

E sai toda feliz, saltitando, até a próxima queda.

Lá em cima tudo é tão pequeno!

Vejo casas e árvores

Pássaros e cachorros a compor a paisagem.

Uma harmonia e tanto

Que, em terra firme,

Transforma-se no caos da humanidade.

Contudo, embora seja delicioso

Abrir as asas longe dos problemas

É chegada a hora de voltar ao chão.

Para que aprendamos novas técnicas

De manutenção e inspiração a vôos

Cada vez mais altos e duradouros.

Para que consigamos buscar o equilíbrio necessário

Rumo a planações menos densas e sequeladas.

Para que sejamos capazes

De olhar o pôr do sol

Lá de cima, sem que precisemos nos proteger,

Sem que soframos danos severos

À pele e à alma,

Caso queiramos permanecer

Mais e mais lá em cima, só na observação.

Quisera o homem

Possuir esse dom...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 18/06/2012
Reeditado em 20/06/2012
Código do texto: T3730635
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