A nave bela e calma...

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

A nave bela e calma inspirou-me o atrelar-me a uma estrela.

Puxa-me a ponta da lua

Em sua manhã mais alva

E me salva!

À porta da rua,

Há um trem sem fim...

Transporta minério e mistério

Mineiros a postos, em fila!!!...

Seus nomes:

Joaquim, Serafim, Silvano,

Fulano, Sicrano, Beltrano...

Ai de mim!...

O que quereis que eu faça

Ou desfaça?

O que quereis que eu refaça?

O nó da gravata

O nó da garganta

O nó na ponta do lenço

Onde se amarraram uma moeda antiga, de prata

Uma pedra preciosa, rosada

Uma aliança descasada

Uma coisa descascada

O nó da vida...

O que quereis que eu faça ou desfaça?

O que quereis que eu refaça?...

O que quereis que eu jogue nas águas do mar?

Uma mensagem na garrafa

Um toco de cigarro infame

De fumo entremeado de erva

E semente de maconha

Flores de flamboyant para

Yemanjá vir buscar?...

O que quereis que eu retire do mar?

A causa de todas as coisas

A ostra, o marisco em forma de estrela

A pérola negra

O coral

A ponta de vil punhal?

No mar tem de tudo!

Navios, tesouros

Boas-sortes, agouros

Avião voando baixo

Submarino profundo

Areias, sereias, lua-cheia boiando no horizonte...

Ainda que eu tenha tempo e obediência,

Ah! Não me peçais nada da selva!

Nem a orquídea, nem a pedra

Nem o ouro garimpado

Nem a foto sobre a larga folha da vitória-régia...

A selva tem tocaias, armadilhas

Cobras enormes, camaleônicas, cor das coisas inofensivas...

Da selva, eu tenho medo.

Muito!

Da selva,

Quero distância...

Fornalha na terra

Fumega...

Chega uma nave bela e calma

E dá agasalho a minh´alma...

Em vez de trafegar,

Navego...

Sossego.

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 08/02/2007
Código do texto: T374219