POESIA
E quando não tenho palavras?
E quando já não sinto mais?
E quando tudo se vai e já não tenho nada?
O que escrever?
Sobre o que comentar?
Será que basta falar da saudade?
Saudade do que não vi ainda
Um absurdo me vem quando penso e nenhuma palavra traduz
Quando o sol está brilhando lá fora
E só o que consigo ver é a carne apodrecida
Calamidade e putrefação
Fadados ao sol todos os dias
Volúpia e insatisfação sem tréguas
Sem rédeas ou controle
Sem perdão ou anestesia
Deus?
Me diga o que dizer
Me diz do que vale a pena escrever
Me diz algo que ninguém nunca falou antes
Será que estou pedindo muito
Eu peço palavras novas
Palavras....
Eu procuro peculiaridade a cada dia debaixo desse mesmo sol
Onde está a novidade
Me digam matemáticos e lógicos
No que vocês podem surpreender?
No que a vida pode nos surpreender?
Tão simples para os que não querem ver é você existência
Viver assim sem palavras
Sem páginas preenchidas
Sem lágrimas
Quem conhece a tristeza não sabe falar dela
E por mais que tentem não saberão seu significado
A isso nos reduzimos
Reduzidos a palavras
Reduzidos ao desencanto
De que símbolo me utilizar?
Nada mais nos pode causar novas sensações
Conhecemos demais sobre qualquer assunto
Já nos disseram muito sobre o céu
Sobre o paraíso que não desejamos
Sobre o inferno que enfrentamos todos os dias
Sem dificuldades falamos
Mas com dificuldades vivemos
Me digam
E quando não tenho palavras?
E quando já não sinto mais?
E quando tudo se vai e já ao tenho nada?
O que escrever?
É difícil sentir-se uma barata
Quem somos senão nossa bela aparência?
Que aparência temos senão aquela que nos disseram ser mais apropriada
Sabemos demais
Mas não sabemos quem somos
Torna-se poesia palavras
Palavras...
Quase uma crença
Um dogma que nos persegue a cada dia sem nos dar satisfação
Ah como não somos livres
Ah como estamos fadados à repetição
Não há nada novo
Quando se compreende que a novidade depende da ignorância