Há alguma coisa...

Há alguma coisa...

Há alguma coisa no ar,

que não me deixa respirar;

alguma coisa na garganta,

que me impede de orar.

É algo além da lembrança,

além do poder, além da vontade.

É feito a liberdade

doada a quem não a solicitou.

O tempo que vaga a esmo,

ocultando-se da vida,

escondido dele mesmo.

O querer em tom menor,

que faz os desejos estreitos

e a impotência maior.

O desencanto de apenas ser

uma dúvida do próprio saber.

São os desmandos do ego,

em detrimento das possibilidades.

É a ida, sem a volta das horas,

esquecida na menoridade.

A honestidade do espelho

a duvidar da tonalidade

dos fios de certos cabelos.

A verdade que aponta

para a escada de dupla mão,

cujos degraus,

somente, conduzem

ao único desvão.

É, na realidade,

a ausência de mim

que me faz pressentir,

prepotente e tão presente,

a irreversibilidade do fim.