PALAVRAS MUDAS

Quando você vier

apontar minhas lástimas

traga gestos calmos,

traga gestos claros,

traga gestos castos.

Quando você vier

preparar minhas cinzas

traga um quilate de ouro,

traga um ramo de mirra,

traga um frasco de incenso.

Quando você vier

encomendar minhas crenças

lembre-se de que sou

torto,

empertigado em urna de ouro;

louco,

enfeitado com folhas caducas de mirra;

poeta,

ungido com fragmentos de incenso.

Quando você vier

retalhar minha existência

traga o silêncio dos tortos,

traga o silêncio dos loucos,

traga o silêncio dos poetas.

Quando você vier

lacrar o túmulo de minha carne insepulta,

traga palavras mudas e nada mais,

pois meus versos necessitam de silêncio.