Dizem
Dizem que sou alma.
E talvez estejam certos.
Talvez minh’alma seja sim
O reflexo de pequeninas fagulhas de felicidade.
Ora envoltas por doce chocolate,
Derretido na boca.
Noutras, cobertas por açúcar cristal
A nos adoçar não só a pele, o sangue.
Mas, cada momento de ternura.
Ternura necessária para que consigamos respirar,
Mesmo por entre densas nuvens de fumaça turva e acinzentada.
Talvez seja eu alma.
Carrego no peito cada segundo, de cada lembrança,
De cada vida encarnada.
Por vezes, lembro-me de míseros detalhes.
Coisa pequenina a me preencher a solidão.
Por vezes, busco as respostas
Para cada incógnita dentro de mim.
E, talvez, por não encontrá-las,
Jogo-as ao vento.
Jogo-as com tamanha força e violência
Que quase as posso sentir gemer.
Um gemido sôfrego, solitário.
Quisera eu realmente as possuir entre meus dedos, meus lábios.
Minhas doces ou amargas lembranças.
Saberia ser luz, a todo instante.
Saberia decifrar os pensamentos alheios
Ao meu favor, ou ao meu desdém.
Saberia explicar.
Saberia contar com detalhes.
Saberia cantarolar canções de felicitar
A quem quer que as ouçam.
Saberia expor com purpurina
As receitas de felicidade.
Dizem que sou alma.
E talvez estejam certos.
Uma alma velha.
Atormentada docemente por quem quer que queira comigo
Caminhar, cantarolar e adocicar as dores do mundo,
Enquanto me for permitido fazê-lo.