COISA

COISA

Chocolates recheados de cereja

Uma noite tranqüila

Meio copo de tequila

A cidade vai longe

Tudo tão perto

Não há o que falar em abraços

Que faltam úmeros capazes

Amanhã o coração estará cansado de hoje

Cansado dessa falta que irrita budistas

Falta de algo que complete o corpo

Que vá além do corpo

Que vá além

Que leve além disso tudo

Que se pode viver, ver, tocar

Trens vazios percorrendo trilhos

Pela obrigação de ir e vir

Sem nunca poderem parar

Quem teve a idéia de ampliar desejos

De evoluir o desespero

Estava obcecado pelo medo

Sacoleja o corpo no vagão

Indo e vindo sem razão

Apenas para não se dizer só

Vai ficando mais só nessa viagem

Que explode sem som

Sem fulgor, sem luz, sem calor

Meio copo de tequila

Uma noite tranqüila

Como se esperasse algo divino

Que só Deus pode socorrer

quando fica o coração vazio

indo e vindo sem razão

esperando uma estação

onde possa se abastecer de esperança

uma certa dose de tristeza

bombons de cereja

nada de milagre

nada de novo

nada de

de úmeros incapazes

constroem-se cidades

Os fazedores de vagões

vão para casa ao apitar da fábrica

sem vontade de chegar ou voltar de onde

por causa dessa coisa sem nome