CONSTRIÇÃO

CONSTRIÇÃO

Permaneço em silencio na tua presença

O silencio é montanha

Circundada pelos muros que construí

À minha volta para proteger-te de mim

Fico sufocando neste tempo

Com mil coisas na garganta

Que não posso dizer

Que não compreendes

Após ter posto os olhos

Em tudo que havia por sofrer

Palavras são ditas

Para que o coração se liberte.

Algumas delas ficam trancadas

Na boca cárcere

Contaminando o resto do corpo

Que apenas sofre, inerte.

Queria que a palavra que fosse dita

Pudesse te revelar minha alma e coração.

Mas as palavras são simples expurgos

Que nada traduzem quando emanadas.

Apenas bálsamo para a alma.

Queria que entendesses que meus muros

Estão desmoronando, deixando ver a mim

Como sou e tu não olhas, que teu olhar

Olha o mundo que queres ver

Para que nada flecha te atinja

Em tuas certezas concretas

Verdades absolutas e secretas

Cada dia que passa é graça

Cada hora é mágica

Mas, mesmo assim,

não olhas para mim

para entender que sou abismação

que algo é pura surpresa

que se mostra a ti, indefesa

enquanto pedras silenciosas

vão causando destruição.

Se tua boca mais dissesse

Mais te revelasse

Decerto o amor não seria desastre

O mundo que queres ver

Decerto teria outra face

Poderias sorrir

Ao me ver, desajeitado

Escalando os muros

Acenando para ti

Chamando tua atenção

Para o homem que, não entendes

Na tua presença abisma adoração.