DO DESPERDÖCIO DO AMOR

DO DESPERDÖCIO DO AMOR

Chove.

Lá fora, Sao Paulo afunda

na lama de sua frieza

e desamor. Como sempre,

pessoas acumulam-se

sob as marquises,

correm nos espaços secos

escondem-se quando regressa.

Homens, para mim sem nomes,

em sua maioria negros e nordestinos,

faces sofridas, marcadas

nem tanto pelo tempo

mais pela desilusao

maos aquecidas nos bolsos vazios,

furados, das roupas em farrapos:

como queria abraçá -los, beijá -los

nos rostos, afagar-lhes os brancos precoces

dos cabelos e barbas desarrumadas;

dar-lhes um café quente, forte; um cigarro

inteiro, um maço, a Souza Cruz!

Dizer-lhes: minha casa lhes pertence,

ela e todo meu amor.

Te amo, semelhante!

Mas...Contenho-me.

Um, por ser homem classificado: macho.

Outro, minha casa ‚ tao pequena,

meus haveres tao sordidos...

Meu amor, apenas ele é imenso.

Mas, para que serve o amor

se devo mantê-lo escondido,

encravado dentro do peito

resguardado de arroubos?

Meus olhos distantes

Minhas pernas fortes

Meu corpo novo, recém usado

O coraçao tao sadio, enorme...

Para que, em funçao de que ?

Vinte e três anos desperdiçados...