DÚVIDAS

DÚVIDAS

Minha boca não acredita

Nas palavras certas,

lógicas e exatas

Que produz.

Tenho mil juizes na sala

Um espanador nas mãos.

Uma camada de fuligem

Pousada sobre a pele

Mergulhada nos poros

Dançando no sangue.

Espanador inútil.

O velho que reside em mim

Esquiva-se de perguntas

No seu cachimbo.

No seu cachimbo se esquiva

E muito pouco sorri.

Na sala vazia

As palavras de fuligem

Dormindo nos móveis velhos

Acumulando-se dentro de cada gaveta.

Fazendo limo nos puxadores

Levantando-se do chão sob as réstias de sol.

O velho não ouve as perguntas

O homem maduro não é ainda paciente.

Descobri há pouco

Que sou maduro

O que assusta

Faz rolar palavra exata

Espessando a nuvem fuliginosa

Que fabrica crosta na pele e móveis

Inúteis.

Minha boca não crê

Que o velho esteja à espreita do homem

Desprezando as perguntas do jovem

Que se pensa homem.

Maduro?

Tento aliviar a camada de sobre meu peito

Acomodando a fuligem e espanadores

Mas só faço agitar partículas loucas

Dançantes no ambiente.

O velho não sorri,

Quase nunca.

No seu cachimbo, esquiva-se

O homem confunde-se: maduro?

Perante os mil juizes

O velho passarinha o menino

Que sorri e ineditiza.