ELEGIA À CHUVA VAZIA

ELEGIA À CHUVA VAZIA

Chove.

Os homens se procuram como podem.

Então chove.

Alguém está triste n´alguma parte

Do mundo.

Por isso, chove.

Uma multidão de solitários

Solitariza as garrafas da seiva

Benigna, maligna, bendita, maldita

(solidária à tristeza)

de algum bar

onde chove.

Homens vazios, cheios de conflitos

Repletos de sonhos:

Nocivas esperanças.

Como chove.

Mulheres vadias, santas, eleitas

Glorificadas

Rezam e imploram em rios de lágrimas.

Chove.

Mães solitárias, solidárias,

Abraçam-se aos seus filhos

Rebentos, mamíferos, prolíferos.

E chove.

Os homens abrigam-se sob marquises

Ensurdecendo-se com as buzinas

Vitrinas

Que espelham-lhes os rostos marcados

Pelo tempo, idade, vícios

e

malefícios.

Suas sombras vazias

São reflexos do clarão do dia

Quando morriam

Chove. E a chuva respinga-lhes

Os reflexos. Assustam-se.

Apenas chove.

Em algum perdido canto da terra

Homens entregam-se à guerra

Berram hinos

Enquanto chove:

Depois morre.

Árabes e judeus se destroem

Se corroem os moquades na

Djihad

E chove.

Mulheres com ígneas tintas uterinas

Escrevem a historia

Do amanhã.

Chove.

Um menino se apronta

Para ser homem

Estremecendo a cada trovão

No céu.

A chuva, plena e solta

Corta a noite

Busca os homens, encontra-os

Fustiga-os

E nunca desanima

(nunca há de.)

A chuva lava os homens vazios

navios

depois some.