ENTRAVES

ENTRAVES

Porque não me amas?

Não. Não que me pegues e comas

mas que me ames

que faças com que me sinta eterna

que me ronde as tristezas

me protejas na chuva

faças com que me sinta mulher.

Porque não amas?

Talvez passe longe do teu entendimento

a fragilidade dos sentimentos

que acometem toda mulher.

Coisas de lua e de sígnos

que tornam pesados todos os desígnios

de quem tem a alma ôca

para parir, rir no medo e do destino.

Não. Não me queiras estátua

capaz de suportar, mármore,

tuas caminhadas e vitórias.

Nem me queiras como adorno

troféu para ser exibido

nem descanso da tua libido.

Porque não amas?

Porque não me fazes companheira

não me declinas o verbo amigo?

Porque insistes nas diferenças

como se depurássemos desavenças

Não fazes da cama abrigo.

E tu nem sentes que passas através de mim

como se eu fosse sombra, vulto

com massa e volume, densidade e forma

Porque não procuras entender esse indivisível

feminino constituído de metades

que se abrem para receber-te inteiro

que goza ao sentir teu cheiro

que delicia-se com mínimos mimos

Tu não percebes nada

ficas aí, no vão da escada

preocupado com exterioridades

sem encontrar a mim,

emersa da tristeza

inquilina em ti

tendo-te como senhorio em mim.

Porque não mergulhas de cabeça

não deixas que a fragilidade te aconteça

te esqueças homem e sejas apenas gente

que encontra gente para ser mais gente

deixa-te, apenas, ser, sem considerações.

Porque não amas?

Fala comigo, deixa-me te adornar com carinhos

deixa-te esvaziar de perigos

para que eu sinta que me amas

e adore que me pegues e me comas.