ESQUECIMENTO
ESQUECIMENTO
Vai o azinhavre do tempo, carcomente
Se deliciando com meus anos,
Deixando uma nódea
Que não há vinagre com sal que limpe
Por mais que se esfregue
Ou renegue aos cabelos brancos
Muriaé de Minas vai sendo
esquecida.
Aos poucos, torna-se um
branco
Na memória. Mauro, o irmão
mais
Querido, pai de dois gênios
Ao passar por lá, sequer
olhou
Sequer virou os olhos ou o
pescoço
Para ver Muriaé de minas
Que o azinhavre do
esquecimento
Na memória devorou.
Não culpo ninguém por esquecer
A “Nuvem de Mosquitos”,
A velha casa que dava para o rio
Que era mar; o abacateiro,
A mangueira nos fundos da casa;
A goiabeira, vermelha, cheirosa
Onde se pensava morarem fantasmas.
Nada ficou guardado para
que se possa
Lembrar:m o porão foi
soterrado;
As árvores frutíferas, as
taiobas
De D. Olívia, que delicia,
arrancadas
Ficaram sangrando,
certamente
Com suas raízes expostas ao
sol quente muriéense.
O casarão – A Venda – agora é
Moderno armarinho onde se
Vende de tudo, de fazenda a ferragem
De adubo a formicida.
Mas lá não há um remédio para ativar
A memória, ou anti corrosivo
Capaz de limpar a nódoas do azinhavre
Do tempo que, aos poucos, tempovagarmente
vai esfumaçando as lembranças
que não deveriam ser esquecidas
para que não ficasse tão sem sentido
o que resta da vida.