Trauma Room
Ohhh pai,
acaso sabia o que eu pensava,
enquanto rolava por aquela escada?
Eu que tanto o desconhecia,
que tanto o abominava,
sentia vergonhava, pois o odiava.
Mas me deste a perfeita escusa
para querer ver-lhe morto, sem perdão,
alheio ao meu corpo como membro extirpado,
inerte e apoderecido, em alguma vala.
Seu sangue perverso faz parte de mim,
seu ódio é apenas tudo que sempre entendi:
existe porque existe o mal,
contamina todas as vezes que o enxergo,
agora decrépito e derrotado,
e eu gostaria de sentir pena.
Mas o que sobra é apenas indiferença.
Eu converso com uma massa carne,
que pouco responde e me é inútil,
pois sempre quis que a fonte de toda minha ira
fossem as externas artimanhas do anjo caído.
Mas não, é tudo nascido de sua fúria sem nome,
contra mim, que era seu igual,
contra mim que era seu filho e que agora,
não passo de um estranho que adentra sua casa.
Não rezarei por sua salvação,
não clamarei por seu perdão,
pois o tempo do pai passou,
e o filho torna-se produto do mundo,
onde fatalmente me afundarei,
na forma de um cadáver que nunca,
jamais,
entenderá por que nunca pude te amar.