Depoimento de Mim

Sou velha como uma borboleta,

nova como um carvalho,

ladina como um pé de couve.

Escrevo porque gosto,

se quer sei muito bem fazê-lo.

Vou passando a limpo os rabiscos do tempo.

Nesse meio tempo esvazio gavetas e armários

que ontem estiveram repletos de papéis,

especialmente o de ignorante tolo;

vou arquivando o psicótico e cortando

as relações do neurótico com o perverso.

Amanhã poderei ser

simplesmente tola sábia.

Enquanto isso vou aprendendo

sobre as coisas do bem e do mal.

Escrevo como quem faz arte de rua:

sem holofotes ou palcos brilhantes,

ou fantasias elegantes. Só penso,

enquanto posso, e escrevo

enquanto enxergo.

É pouco?

Sim, muito pouco.

mas já fui de Blake,

a inspiração para seu Grande Dragão Vermelho

de Homero, o prazer estético e ensinamento moral

Shakespeare, me vestiu de longo com fitas nos cabelos

Cervantes, me aceitou e me levou em sua jornada

Vinícius, me chamava de mulher amada

Bilac, me deu uma bandeira

Drummond, deixou uma pedra no meu caminho

Poe, me transformou em assombração

Pessoa, me nomeiou ridícula

Camões, bucolicamente me satirizou

Gonçalves Dias me disse Ainda uma vez... Adeus.

mas não me importo

se hoje sou apenas poeta.

©Soaroir Maria de Campos – Nov.19/2006