Condenação Eterna
Permaneço aqui, há séculos,
Na margem oposta do Aqueronte,
No mundo subterrâneo,
Esperando, esperando...
Mas, para mim, não há esperança;
Meu corpo está
Nas profundezas do mar
Decomposto, apenas osso;
E hei de ficar aqui, condenado,
Vendo os mortos passarem
Desesperados, sepultados...
Não choro porque não consigo chorar;
E novas almas não param de chegar
Caronte* leva-os à outra margem,
E eu fico aqui, nesse escuro,
Uma alma condenada, um corpo insepulto...
Ele os leva, porque eles o pagaram,
Com duas moedas sob o olho do defunto**,
Eu não, sou eterno devedor,
Eterno morador desse mundo.
*Caronte é o nome de uma figura mitológica do mundo inferior grego (o Hades) que transportava os recém-mortos, na sua barca, através do rio Aqueronte até ao local no Hades que lhes era destinado.
**Era costume grego colocar uma moeda, chamada óbolo, sobre cada olho do morto, para pagar a Caronte pela viagem. Se a alma não pudesse pagar, ficaria forçosamente na margem do Aqueronte para toda a eternidade.