Condenação Eterna

Permaneço aqui, há séculos,

Na margem oposta do Aqueronte,

No mundo subterrâneo,

Esperando, esperando...

Mas, para mim, não há esperança;

Meu corpo está

Nas profundezas do mar

Decomposto, apenas osso;

E hei de ficar aqui, condenado,

Vendo os mortos passarem

Desesperados, sepultados...

Não choro porque não consigo chorar;

E novas almas não param de chegar

Caronte* leva-os à outra margem,

E eu fico aqui, nesse escuro,

Uma alma condenada, um corpo insepulto...

Ele os leva, porque eles o pagaram,

Com duas moedas sob o olho do defunto**,

Eu não, sou eterno devedor,

Eterno morador desse mundo.

*Caronte é o nome de uma figura mitológica do mundo inferior grego (o Hades) que transportava os recém-mortos, na sua barca, através do rio Aqueronte até ao local no Hades que lhes era destinado.

**Era costume grego colocar uma moeda, chamada óbolo, sobre cada olho do morto, para pagar a Caronte pela viagem. Se a alma não pudesse pagar, ficaria forçosamente na margem do Aqueronte para toda a eternidade.

André Espínola
Enviado por André Espínola em 11/02/2007
Código do texto: T378034
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