PRAZER, PRAZER

existe um gozar brando

– quase tênue –

quando a alma fala mais do que o corpo;

um gozar tão brando

como se todos os gozares do ato

[onipresentes]

superassem aos da Trindade...

existe um gozar malicioso

- quase escandaloso –

quando a pele vive à flor dos mais sentidos;

um gozar tão malicioso

como se todos os gozares do ato

[irrequietos]

deixassem de fora os maios...

existe um gozar infernal

– quase colossal –

quando os cachos de uva viram folhas de parreira;

um gozar tão infernal

como se todos os gozares do ato

[endiabrados]

expiassem Safos e Bacos...

existe um gozar animal

– quase estúpido –

quando os ciclos perdem a temperatura dos sentidos;

um gozar tão animal

como se todos os gozares do ato

[irracionais]

perdessem a comunhão dos pares...

existe um gozar sem rio

– quase árido –

quando, indisfarçável, uma mulher se expõem demais ao sol;

um gozar tão sem rio

como se todos os gozares do ato

[conformados]

fizessem deveres de casa...

existe um gozar comedido

– quase educado –

quando uma idade, jamais tida, sente que o prazer foi até ali e voltou;

um gozar tão comedido

como se todos os gozares do ato

[rejuvenescidos]

ignorassem quaisquer quês de saudade...

existe um gozar em par

– quase mútuo –

quando uma experiência conquistada amadurece resolvendo bem os casais;

um gozar tão em par

como se todos os prazeres do ato

[insuperáveis]

fossem todos tidos pelos gozares consentidos....