El Lobo

Pelos mares do Norte navega meu amor

Tomba à deriva minha nau a vapor

Deixa o pesar de ter de transportar

Todos os pecados do vil sedutor

Pestanejo, maldigo todos os anjos

O Paraíso em rebuliço se atira ao mar

Mistura-se à água cristalina que flui do seu ventre.

Vai para o Céu.

Vê Deus resplendente e pútrido

Devasso, tirano, maravilhoso ser

Quis do poeta seu bem maior:

Ele mesmo transformado em Ele.

Uma torrente de migalhas deixa à porta

Para os bem-aventurados

Mendigam o pão que engorda e faz crescer

A desdita dos pais: ver seus filhos seguindo seus passos.

Certezas, tradições, tabus

Amontoado de insensatez.

Mas as putas uivavam ao luar encardido

Vendo seus corpos amaldiçoados serem devorados por lobos

"El placer de sentir El Lobo em mi corazón".

Olhos brilhavam de satisfação e loucura

O brilho sombrio que só os loucos possuem

Quero germinar e crescer e morrer

No seu seio fecundo

Está acabado, assim falou Charlie.

"Viva, viva, viva!

Viva a Sociedade Alternativa!"

CARLOS CRUZ - 1990