Exílio

Baforeja o odor de flores silvestres

Pestaneja feliz e segue seu rumo

A rota sinuosa que não leva a lugar nenhum

Vislumbres de luz, batalhas distantes

Sentimentos presentes derrota o afã

Vão desejo de crescer e viver

Para ver o sol de um novo amanhecer

Morrer ao acaso, ocaso malévolo

O lume sinistro a noite entretém

Vultos se escondem, ostras macabras

Libação almejada por espíritos afins

Manchando não-corpos

Insubstância transubstanciada em nada

Nada além do véu azul

Suave se adensa e invade o desejo

Livre voar

Queda livre

Espatifar-se sobre os prados do sul

Vaquinhas pastam

Adormecem felizes sobre seu ventre

Não intentam viajar ao Olimpo

O estreito limiar das velhas raposas

Espreitam sagazes e sorrateiras

Preparam ciladas de infinitos ardis

Passas ao largo do pobre mendigo

Sub-humana figura com palavras senis

Guiou pelo vale

A sombra da morte a todos cobriu

Satisfez os desejos de todos os eus

E, saciada, retornou ao covil.

CARLOS CRUZ - 1990