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ME TIRANDO O COURO

Volto das férias amigos,
tranqüilo e descansado,
depois de ter passado
um mês fazendo festa
só a lembrança me resta
das alegrias que senti,
dos momentos que vivi
na fazenda do cumpadre.
Chego de volta, um alarde:
“Tenho trabalho pra ti!”

Te acalma, meu patrão!
Me deixe tomar um café,
uma prosa cá no pé
do seus dois ouvidos.
Me grita: “Toma sentido!
Pegue a enxada e o ancinho
e também o carrinho,
hoje tem muito serviço
vou tirar o teu couriço,
chega de andar bronzeadinho.”

Vai ao recanto dos gansos
faça uma baita faxina,
tá cheio de sina sina
que não presta mais pra nada,
me lava até as éguadas
e os cavalos crioulos,
as ferramentas tão um rolo
tudo fora do lugar,
depressa, vá alimentar
o meu papagaio louro.

Faça a limpeza da horta,
não deixe nada de lado,
são oitocentos metros quadrados
que tu fáz em duas horas,
vá regando, sem demora
que o tempo não marca chuva
toma aqui as tuas luvas
descarrega o caminhão,
tem cimento, pedra, areião,
e aqueles canos de curvas.

Vá também ao galinheiro
que até o galo anda triste,
ovo, por lá, não existe,
as galinhas estão em greve,
é só tu que se atreve
a cuidar da bicharada,
vá ter uma proseada
com este povo do terreiro
que não brinca o dia inteiro
e nem ovo tem pra gemada.

Me lava bem a piscina,
troca água e bota cloro,
vou ali, não me demoro.
Limpa a sauna a vapor
e passa um brilho color
nas mesas e nas cadeiras,
no chão, passa uma cera
que tudo fica novinho,
me limpa a adega de vinho
que tem muita teia de aranha
e até os barris de canha
que bebo com os vizinhos.

Troca os moirões e os fios
de todo esse cercado,
veja só o estado
pois tá tudo imprestável,
me lava os automóveis:
o Sena, o Landau e a Saveiro,
no capricho, parceiro,
deixando bem perfumado
com os pneus bem lustrados
como brilha um luzeiro.

Começa já, meu rapaz,
sem delongas e pitongas,
limpa o viveiro das pombas
e também dos jacarés,
e aqueles aguapés
que já estão meio crescidos,
poda tudo parecido
deixando na mesma altura
e naquela terra dura
vá socando o chão batido.

Não esqueça do jardim
deixando tudo cortado,
e este viveiro do lado
que é das minhas codornas,
alimentas e contornas
não deixando faltar nada
água, vacina e ração.
E até o salso chorão
tu sampas uma podada.

Limpa o canil dos cachorros
lavando com creolina,
oitenta de raça fina,
cinqüenta e poucos guaipecas
e aquele ali, sapeca
que só gosta de brincar,
escova bem devagar
pois o poodle da madame
só come queijo e salame
e leite pra não engordar.

Vou te dizer, Edegar,
do porque deste castigo
não convidaste o amigo
para a tua festança,
vi na TV a lambança
o quanto tinha de gente,
todos em roupas diferentes:
general, princesa e sultão,
e humildes cidadãos
como tu, caro vivente.