É preciso suar

“É preciso suar, ganhando o pão,

pra poder garantir que o pão é seu.”

(Dedé Monteiro)

Há quem diga que é só rezar "Pai Nosso"

e o pão nosso diário cai na mesa.

Há quem pense isso assim com tal certeza

e, se o pão não lhe chega, tem um troço,

e esbraveja, dizendo "eu já não posso

agüentar essa vida". Então, me deu

de falar nesses versos o que é meu

pensamento a respeito. E eu digo: "Não!"

É preciso suar, ganhando o pão,

pra poder garantir que o pão é seu.

Há quem faça algazarras pela rua

e se esqueça do seu labor diário,

o domingo preencha o calendário

e, de banjo na mão, cultive a Lua.

Outro dia amanhece, e continua

a fazer-se demente e bonachão.

É preciso suar, ganhando o pão,

pra poder garantir que o pão é seu.

Nâo se faça demente. Já morreu

quem pensou desse jeito, sem um grão.

Se o poeta Dedé fez, com razão,

esse mote tão forte, então pergunto:

o que eu faço calado? Vamos junto

ao poeta, e com Ismael Gaião:

"É preciso suar, ganhando o pão,

pra poder garantir que o pão é seu".

Nilza Azzi uma vez me surpreendeu,

chamou Sonia Carrato e fez um verso,

e Regina Medusa, do universo

avisou todo mundo e sucedeu

que essa glosa, que muito mal nasceu

num repente, arvorou-se num roldão:

É preciso suar, ganhando o pão,

pra poder garantir que o pão é seu.

Muita gente famosa apareceu

e foi dando razão ao belo mote.

Eu tentei rematar mas, com que dote?

A danada da verve foi-se em rio

e, pra não escrever um desvario,

precisei de parar, que ninguém note.

É preciso suar, ganhando o pão,

pra poder garantir que o pão é seu.

E quem dessa labuta se esqueceu

volte logo ao trabalho, porque não

vai cair lá do céu, como oração,

sem suor, sem trabalho, sem labuta

o seu pão. É precisa muita luta,

é preciso o suor caindo em bica.

É geral: gente pobre e gente rica,

ao trabalho, que nem filho da mãe.