Incoerência

Pintam trios, trilhos e trilhas

Fazem laços, traços e maços

Destroem trens, armazéns e reféns.

Precipita do céu a rolha humana

Suspiro de carne velha e disforme

Não dispõe do fio de tecer a rede

Precursora do Redentor

Arrebenta correntes

Demente de plantão

Insone vilão

Fica horas a levitar sobre a massa

O pão que come, mastiga e amassa

o pobre diabo

Destrói o sentido de ser consumido

Mordido por cães, assassinos vorazes

Incapazes de ter o poder de pensar

Pensa, raciocina, contempla, medita

Para, inadvertido, descobrir

Tecer sua linha de lã de cabelos

Encobrir a nudez de sua própria razão

Absurda, alucinante conclusão

Pé no chão e o poder de decisão

Alucinação, visão trágica do seu Paraíso

Débeis sorrisos irrompem e a voz

do que clama no deserto

Prepara o caminho do Leviatã

Praga do sangue, asquerosa rã

O cão não pensa

O homem não devora sua presa

Os moribundos perambulam na cidade

Clamam por sua causa primária

O Deus dos mortos, saciedade suprema

Maldita felicidade

Suja, falsa e morena.

Carlos Cruz - 1990