Introdução

As contorções do intestino grosso

Faziam-se ouvir à longa distância

E na perseverança que vagava a esmo

Te vi reluzente nas trevas exteriores

Seja digno com a sumária rota

Dos que, titubeantes, declinam para a derrocada

"Não se fazem mais homens como antigamente"

Aspergem-se cores nos molares veementes

Tempestuosa era a ira dos terroristas

Inauditas as palavras torpes

Vendo as vagas, criações de procelas precipitantes

Não me contive: os brados irromperam como um murmúrio

Cânticos exaltados por Salomão

Preleção despejada sobre a reles meretriz

Da abóbada dum tosco valhacouto

Era sublime vê-la gostar de transpirar

Verti lágrimas, por não poder aclamar:

"O amor vence barreiras, das quais não se pode escapar"

Eram melancólicos os últimos arpejos duma noite ininterrupta

A opção era a casa dos vagabundos delinqüentes

Que, bêbados, entoavam canções e, sorridentes

Bebiam rum para, aliviados da inconseqüência

Duma fratura expostamente rude

E o crepúsculo tardio encobriu a nudez

Da moral insidiosa da ignomínia humana

Ouve-se no alto o ribombar do trovão

Que traz consigo o ruflar de asas etéreas

Não me susteve o peso da incongruência

Saltei do monotrilho para uma nova era

Para, aturdido, descobrir e ouvir

A gargalhada estereofônica

Surpresa medonha: era só o vento norte

E a quimera.

CARLOS CRUZ - 1989