Tigres

Convivo com três tigres famintos.

Toda noite abro a jaula pra repor os alimentos.

Um deles é albino, terno.

Pela falsa sensação de segurança

que causa aos meus sentidos seduzidos,

ameaça-me o sossego.

É o tigre da saudade.

Outro tem pelagem de sol.

com pegadas noturnas sobre o dorso.

Não se habitua jamais ao cativeiro,

instinto indômito.

De seus ataques inesperados

guardo velhas cicatrizes.

O tigre da insônia.

O outro, o mais terrível,

é negro, de um breu que dói aos olhos.

Anda em círculos na jaula

impondo a condição de dominante.

É um antigo devorador de homens.

O tigre da solidão.

Não os temo.

Embora me devorem lentamente,

necessitam de mim para viver.

Somente eu os alimento,

apenas eu os vejo,

por isto detenho algum domínio sobre eles.

Como estamos intimamente ligados

por elementos circunstanciais,

continuaremos ameaçando-nos

a cada segundo de vida

até morrer de velhice antecipada.