Ciclo
Pequeno, franzino, indefeso.
Chora, tem fome, tem frio.
Tão frágil, tão doce, sem peso
Dorme muito em seu quarto sombrio.
Saliva que desce na boca
Depende de alguém toda hora
Pra ele a vida ainda é pouca
E viver é sempre o agora.
Criança se faz bem feliz
Ele corre, brinca, apronta
Algo lhe escorre ao nariz
Nas costas do pai sempre monta.
O amor logo vem, de repente
E o primeiro beijo acontece.
Sensação que não sai da mente;
Paixões que a idade tece.
Namoro, noivado, casório.
Não quer mais estar sozinho.
Trabalha em seu escritório,
Sem tempo para um cafezinho.
Logo vem seu lindo filho
E junto eternos problemas.
- Menino, ande sempre no trilho!
Conversas sobre vários temas.
A esposa seguia mui bem
Se amavam, eram em paz.
Porém males sempre vêm.
Traição é inimigo fulgaz.
Sem filho, sem amor ou rumo
Se viu solitário e triste.
A fruta perdia seu sumo.
Ser só: maior mal não existe.
O tempo passava com pressa,
Sua força também se esvaía.
Cansaço que não há quem meça
Pesava e seu corpo caía.
Sentado à uma poltrona
Passar o tempo esperava.
Areias ruíam sua lona,
O fim de sua vida chegava.
Rugas, fraqueza, doença.
Já não tinha mais esperança.
Sua vida já fora tão tensa
Queria voltar a ser criança.
Pequeno, franzino, indefeso.
Chora, tem fome, tem frio.
Tão frágil, tão doce, sem peso
Dorme muito em seu quarto sombrio.
Saliva que desce na boca
Depende de alguém toda hora
Pra ele a vida ainda é pouca
E viver é sempre o agora.