Assassino da Mobília

Se você se vê livre de mim,meu bem,tenha cuidado:

Um pensamento como este só pode estar equivocado.

Não verá mais por perto vestígios dos meus gostos ou pêlos

Ou sequer sentimento de falta, mesmo que asfixiado.

Mas terá prego e madeira imobilizando os momentos,

Portas de entrada e saída pros quadros delatores,

Discussões já vistas encortinando os aposentos,

Todos os desfechos indo ao encontro das cores.

Abraços e amarras,

Tendões e tábuas,

Rancores e quinas,

Assassino da mobília.

Cada móvel me será tanto cúmplice quanto testemunha,

Subornados pela ausência e livres de toda e qualquer culpa

O chão liso e despido encobre por si só os rompantes

Das perversões armadas nas paredes, decantadas bem antes.

E o estalo das línguas comungará com o assoalho

No andar em fuga do vento a furtar as janelas

E um Fim irado e lacrimoso será corpo estirado,

Sepultado antes pelo meu ranço que por nossas mazelas.

Abraços e amarras,

Tendões e tábuas,

Rancores e quinas,

Assassino da mobília.

Rodrigo Fróes
Enviado por Rodrigo Fróes em 20/02/2007
Reeditado em 20/02/2007
Código do texto: T387007