QUEM

O cheiro que vem deste chão encantado

Cheira ainda a ninho inacabado,

Mas o vento soão que por aqui passou

A face das coisas, todas mudou.

Feneceram os sonhos, as quimeras,

E as doces primaveras

Que alegravam estes vales e montes;

Calaram a voz das fontes,

E dos rouxinóis seresteiros de outrora

Que acordavam a doce aurora.

Roubaram o perfume às camélias

E a ladaínha das abelhas

Que rezavam a nosso Senhor,

No adro da minha igrejinha

Pelas alminhas apenadas

Lá da beira das estradas.

Só me ficou este encanto

Mistura de sonho e de pranto

Que me invade assim, devagarinho;

Sou um pobre, pobrezinho,

De alforge cheio de nada

Sozinho nesta estrada;

Deus, meu Deus!

Quem me roubou os sonhos meus?

8.9.12