Tacacá

Andando as margens do Guajará,

Lá no ver o peso,

Senti um cheiro no ar.

Eram tantas essências,

Misturadas a falácias,

Que custei a identificar.

Mas esse é o cheiro do Pará?...

No escuro de minha ignorância,

Segui os paralelepípedos no ocidental do mercado.

Lá no fundo do quintal.

Dona Rosa e dona Flor,

Estavam com as mãos a servir algo fogoso.

Por causa da chuva fina,

Mais do que depressa me acomodei na tendinha de palha.

E o cheiro me veio afrontar.

Como a me tomar,

Me encheu a boca de uma vontade...

Inconhecida, quase uma necessidade.

Não sabendo o que era,

Me danei a perguntar.

Esse seu moço, me disse uma das donas, é o tacacá.

Quis saber e a interrogar,

Visto que já era prisioneiro do sabor.

Ela pôs – se a divagar.

Estrangeiro do meu lugar,

Assenta-te para saborear.

Tacacá, tacacá...

É tucupi, goma de tapioca,

Com jambu, alho, chicória...

Complementa com a pimenta de cheiro.

Servido a cuia essa iguaria venenosa,

Mais do que saborosa, nunca vai matar,

Mas viciado fica qualquer um que provar.

Sem ter mais o que falar,

Aditei ao lábios o caldo e me danei a degustar.

Viciado, nunca mais deixei o Pará.