NOVO SÉCULO
Domingo, fim de tarde
Bancos vazios ocupam a praça
Crianças brincam de esconder da polícia
Enquanto flores crescem sob a chuva ácida
Passeio sobre o asfalto velado
Há solidão em copos e calçadas
Recito teorias em muros caiados
Sigo, na insistência da metáfora
Tentando não mutilar meus sonhos
Minhas ideologias - utopias ou não
Resistirão ao desespero da prece
Que avança com a escuridão?
Ou perecerão à imagem no concreto
Ao fascismo do número de mortos
O terror e o teatro na voz da notícia
Que produz fantoches resignados
A receber esperanças maltrapilhas!
Resistirão a esta tarde cinza
Ao medo fardado nos olhos
E ao pranto lúgubre da alma
Que não aceita os discursos prolixos
Nem o silêncio dos entrincheirados
Indago, com a violência do verso
Com a abstinência do hábito.