[Questão do Ver Direto]

[Quem disse que eu quero ser compreendido?!]

Sob uma quase oculta "pressão semântica",

e sem mudar a sua cara habitual,

alguns verbos demudam o modo de ser...

Sua regência, antes indireta,

exigente, refinada, passa a ser

escancarada, direta, reta

— sem a vaselina [o KY?] da preposição!

Vulgar... vulgar! Clamam aqueles

que se recusam aceitar o defloramento

preposicional de assistir...

Preferem o ver já deflorado, direto...

São voyeurs contumazes de antiguidades!

Eu, que sou menos que um cão,

[pois sei que vou morrer],

que nada entendo dessas coisas,

e já vivo em outras transições,

fujo dessas questões semânticas!

Busco o sentido direto do que há

entre mim e quem me quer...

que seja por um módico aluguel!

Não cederei a nenhuma oculta

pressão semântica do passadista amar

que já foi até chamado de intransitivo...

Agora, alugar sim, alugar é que dá conta

da excitante impermanência do gostar!

Decidamos já: ou eu me alugo a ti,

ou tu te alugas a mim... ou antes:

aluguemo-nos... mutuamente!

Ah, mas com uma condição:

na regência direta, sem nenhuma

preposição de orelhas a nos tapear!

A nossa questão é uma só:

Ver... ver direto, sem contemplar,

que nunca tivemos futuro!

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[Desterro, 21 de setembro de 2012]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 22/09/2012
Reeditado em 22/09/2012
Código do texto: T3894888
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