POESIA À REVELIA

Silêncio, mais que um desejo.

Silêncio, mais que um afeto.

Tormento, não ter por perto

Resquício desse querer...

E as poesias? Nascem tortas!

Pois meus sentimentos fogem,

minhas paixões esvaecem.

As dores? Desaparecem!

Sem quietudes pra sofrer.

De tudo, não resta nada.

Adormecem as alegrias.

E as transformações são lanças

ferindo a essência dos dias.

Fujo, me escondo, me perco,

invoco a santa poesia,

mas ela se distancia

(clamando pelo silêncio).

Fecho a porta, tranco o quarto,

mas eles gritam lá na fora.

No pôr do sol ou na aurora

eu busco e não encontro a paz.

O mundo, essa roda-viva!

A terra – esse fim de tudo.

Os homens, os desafios...

Sem tempo para calar.

Urgências, trabalhos, filhos,

novas solicitações,

as velhas demandas vãs

(nunca, jamais o silêncio).

Mesmo assim, vem o poema!

E é quase uma valentia.

É desabafo na tarde.

A salvação desse dia.

É prova de teimosia.

Fera que escapa à jaula,

flor que resiste ao gelo

luz guiando a jornada.

E o poeta rompe o espaço,

salta as barreiras do tempo

e abre mão do silêncio

(insiste em parir palavras!)

E produz à revelia

do barulho, dos lamentos,

dos latidos sem sentido

dos cães de hoje e de outrora.

Tudo por um motivo:

poetas são como vento...

Têm de espalhar sementes,

levar recados da alma

Para o coração das gentes.

Goimar

Santa Rita do Sapucaí

Sul de Minas Gerais

Aos vinte e cinco minutos do dia

27/12/06

Goimar Dantas
Enviado por Goimar Dantas em 22/02/2007
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