Passeio em mim..., de Helena Cunha

Passeio em mim....

Cintilam esp'ranças na aridez da vida

Tentei agarrar uma

- A da felicidade...

No vento chegam-me sons de despedida

Ao banhar-me na brisa da saudade.

E sigo passo a passo, em passo lento,

Na solidão da noite

Perco-me em mim...

Relembro com alento

Os momentos de dança

Em que eu mulher -menina,

criança,

dançava a contratempo...

E páro

Perdida,

Louca,

As lágrimas correndo...

A esp'rança não existe, ela morreu

Dissipou-se no tempo... E se perdeu.

Comigo segue um desfilar de penas

Transformam-se em saudade...

E mesmo sem ter arte

Em poemas

As canto na verdade.

O horizonte espraia-se no mar

Em seu poente rubro

E sinto dentro do peito a navegar

Esse manto de tristeza

Com que me cubro.

Mas vou em frente

Sigo o meu destino.

Sem voltar atrás nesta viagem

Encaro, sou mulher, tenho coragem

Mesmo que em desatino!

Na praia, ao regressar, uma gaivota..

( parece-me que a pobre já morreu)

E olho o céu,

Ali fico absorta

Pensando que sou eu.

Prossigo devagar

O meu caminho,

Olhando para trás, vejo-a estendida...

- Penso

No meio de todo o desalinho

Que a morta serei eu...

Ela se libertou, ela está viva...

Helena