Pensadores
Sentir orgulho do seu lar,
Orgulho dos campos verdes e de um sol amarelo
Orgulho do céu azul coberto por estrelas
Da favela iluminada
Do pagode mal feito
Do sorriso na roda de amigos
Da festa atoa
Da velha mania de levar tudo na boa
Sentir orgulho do meu povo trabalhador
Da cultura, dos livros, dos poetas
do transporte coletivo
da força da minha gente, dia após dia rumo à lida
de cada gota de suor derramado para as conquistas
Em país alheio me vi mais um maltrapilho e senti saudades
Das garotas do programa de televisão
Da autoridade dos mandantes que se impõe e na verdade senti raiva e vergonha
Das autoridades autoritárias
Vergonha do cigarro verde em um sorriso amarelo
Do estereotipo do olho azul
Onde se ofusca o brilho de outras estrelas
Vergonha da favela iluminada
Do pagode mal feito
Do sorriso sem dente na roda de amigos
Vergonha das festas atoa
Da ridícula mania de levar tudo na boa
Senti triste do meu povo explorado que trabalha de sol a sol e ainda assim não tem o suficiente
Vergonha da nossa cultura, da falta da leitura dos livros, da escassez dos poetas
Do insulto diário que é o transporte coletivo
Da fraqueza da minha gente, dia após dia rumo à lida
De cada gota de suor que se tem que derramar para as conquistas
Em meu pais olhei pra fora e senti vergonha
Das garotas de programa no programa de televisão
Do descaso sempre ao acaso
Dos aviões sobre meu teto
Do povo que elegeu um presidente
Do presidente que se esqueceu do povo
De cada patrão que se esquece de onde veio
De cada subalterno que se permite controlar pelo dinheiro
De cada pessoa que promete o que não pode cumprir
De cada um que não aprendeu o peso das palavras
De cada um dos que confundem intensidade com eternidade
E então eu vi que tenho tanto ainda a dizer que já não quero mais dizer nada
E em uma visão do futuro me encontro perdido e confuso
E esse cansaço se faz tão nítido em minha face que já se tornou o assunto
E quanto mais eu escrevo, menos eu entendo....