A fé da minha cidadezinha.
No limiar metalizado dos teus bocejos
Vejo mundos, vejo crianças, vejo cavalos selvagens...
No portão cor de girassol
E com detalhes em alto relevo
Sinto as músicas, sinto os gritos e as preces.
Preces essas que pensam em salvar o mundo
Preces essas que dormem de sapatos
Preces essas que nunca acontecem
E que acabam em algum lugar
Quando atraca nas fronteiras
E nas ovelhas que sabem que já acabou.
Mais tudo que se ignora
Também tem vida: o amor, as caixas
As velas, a panela de pressão, o óleo de cozinha
E as noites mal dormidas quando pego-lhe nas mãos.
Fixo os olhos nas jóias
Só elas me dão graças
Só elas e os pescoços das mulheres
E da sociedade vazia
Com seus isqueiros de metal trabalhado à mão.
Um pouco de felicidade
Acho que mereço
Sou homem de carne e de pecados
De arrotos estrelados
De bronzeado de feridas
De vontades agonizantes.
Só aqui no meu corpo
Consigo ouvir vozes,
Uma beleza rara
Que de tão cobiçada
Se mudou para algum país
Onde as florestas são vermelhas
E os tiros são de algodão
Dos campos de jazz.
Mais eu pelejo
Com tantas máquinas
E com tantas agonias.
Só o enredo dos dias de glórias
São submissas a tarde
E o seu sadismo de vencedor
Que vem do hospital.
Mesmo assim,
Me liberto da minha cidadezinha.
Lá, dá covardes na época dos cajus.
Lá, meu pai só existe no retrato
E a minha mãe fica na sala com sono
Do dia inteiro e das marcas do fórum.
Eu, então
Tenho nome de santo.
Mais os santos
Não são felizes
Eles pecam por serem homens
Eles pecam por serem santos.
Salvação!
Não sou só escuridão.
Só dia também.
Sou dia,
Porque o que me resta
São os livros.
É o meu punhado amigos:
Drummond, Gullar, Dobal, Hurxley, Thomas e Maiakovski.
Eles me consolam.
Eles me aconselham.
Eles são quem me fazem dormi.
Mais, as vezes
Um gesto basta.
Mais é difícil acreditar
Que esse gesto cairá do céu
E que esse gesto cairá no jardim.
Tadinho de mim.
Francisco Hawllrysson.