Morfina
Um paulista perdido nas ruas do Rio...
Sem lugar...
Um mineiro desencontrado na noite de Recife...
Sem lugar...
Um gaúcho sozinho nas ladeiras sem carnaval de Salvador...
Sem lugar...
Chuva torrencial,
asfalto,
esquina...
Mais uma vez,
fizeram da lata de lixo
um berçário improvisado.
Procurem no guia da cidade
onde moram hoje
Cosme e Damião.
Nossos dias velozes,
nossos vizinhos que nunca vemos,
nossos parentes dos quais nos esquecemos,
e o telefone que não toca.
O que fica no ar
é somente o perfume de dama-da-noite
misturado a um cheiro urbano de hidrocarboneto queimado.
Temos de cuidar dos nossos diamantes.
Para não ensandecer,
é preciso que possamos sentir em nós
o carinho que a caneta faz no papel ao escrever.