ANTONIA DE TODAS AS DORES

"Sou Ana de cabo a tenente

Sou Ana de toda patente, das Índias

Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada

Sou Ana, obrigada"

(Ana de Amsterdã - Chico B. de Hollanda)

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São tantas as minhas feridas

que nem sei como sarar

são roxos desenhos na pele

tormentas de tortuosas noites

nos braços as dores de açoites

venho vindo há tanto tempo

naufragando neste mar.

Errando os pés, andar lento

ziquezague nas calçadas

sou Antonia, de salto alto

da briga no asfalto

e prazer em um ato.

Não nasci de literatura

sou mulher da cara dura,

sou cria de beira de estrada

dos rotos escambos, moeda.

Em dias e noites, agruras

no sono, a paz que me leva.

Nos jornais não fui menina,

estudante,ou filha, ou irmã,

fui pivete, menor, delinquente,

e hoje não sou mulher,

sou somente entre aspas,

perdida, puta, safada,

a dama da madrugada

"tem um cigarro aí pra me dar?"

Meus amigos de noitadas

também nunca foram pessoas

com suas caras nas notícias:

marginal, bandido, ladrão.

Sou Antônia das esquinas

dos becos, da confusão.

Valha-me Deus e o demônio

minha carne é solidão...

Sou verso de pé quebrado

de algum poeta borracho

estou sempre de partida

dou risada , faço escracho,

mas meu beijo é doce mordida

guardado pro meu malandro

safado, cretino, ensebado

e tão meu, minha riqueza

meu descanso , pão na mesa

sal e sangue, céu estrelado!

(PUBLICADO EM MARÇO DE 2010 )

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 01/10/2012
Código do texto: T3911013
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