Escrava

Em sua profunda e calada submissão,

perco-me em desejos que dilaceram sua carne.

Em sua vermelha e doce sedução,

descubro-me em virtudes que alimentam minha arte.

Senhora sua, que reina acorrentada

Escrava minha, que sofre resignada

Entrega-se, soberana, no leito estirada,

à masmorra soturna e à vontade ordenada.

Rendida e livre de seu velhos temores,

vaga à beira do abismo, nas altas torres.

E ao lançar-se no precipício coberto de flores,

prende-se, segura, aos meus braços dominadores.

E nua e extasiada e cansada do risco,

chora e repousa sobre meu amor.

Escrava dos olhos negros, senhora do meu aprisco,

não se dobre ao sorriso,

mas ao chicote e à dor.