DOCES E DOCES

beijo teu rosto

qual como um doce

de afeto repleto,

[há açucares de sobra nos teus cantos de boca]

embora, tão completa e tão mulher,

és aquela mesma menina

que, um dia,

adoçou-me a boca

minha barba rala

deixava os apelos dos teus pêlos

aos arrepios,

[havia uma tempestade de frios amenos na pele dos teus braços]

reconhecias todos os sabores dos picolés e dos pirulitos,

sobrava-te açucares num dos cantos da boca:

um melaço de mulher nem tão doce

e, nem tanto, tão feminina

o meu lado direito, irrequieto, te lambia

[contudo]

o meu lado esquerdo, espalhafatoso, te provava...

[ah, suspiros!... ah, respiros!]

enquanto

um meu anjo – em guarda – te ninava,

um meu outro diabo – de pé – te seduzia...

[aí, escorria mais uma baba doce por um dos cantos de seus lábios]

açucaradamente igual ao gosto do teu rosto de agora

— que beijo —

como quem come um doce repleto de afeto

[singular]

pelos sabores, de sobra, dos teus cantos de boca

que reconheço...

e, apesar de seres uma mulher completa,

és aquela mesma minha menina que eu caramelava o rosto.